TESTEMUNHANDO RARA (AINDA) INVASÃO José Raimundo Gomes da Cruz

12/07/2019

TESTEMUNHANDO RARA (AINDA) INVASÃO

 

José Raimundo Gomes da Cruz

Procurador de Justiça de São Paulo aposentado

 

 

Episódio ainda bem raro, ontem, 24/6/19, segunda-feira, na Igreja do Santíssimo Sacramento, na Rua Tutoia, Vila Mariana, São Paulo, perto de onde resido, durante a missa das 18h30. A frequência, não sendo dia santificado, como ontem, era bem escassa, não passando de duas dezenas de pessoas, quase todas idosas.

 

De modo agitado, falando alto alguma coisa pouco compreensível e subindo até o altar, em pleno ofertório – momento essencial da celebração eucarística – o indivíduo se dirigiu ao celebrante muito à vontade. O celebrante não ficou assustado, também não se alterando a ministra da Eucaristia, que prestava a ajuda do seu ofício ao sacerdote. Nós, os poucos participantes da missa, quase todos idosos, ficamos atentos, mas só um de nós, menos idoso, caminhou até bem perto do invasor e disse, a este, alguma coisa amistosa, em voz baixa. O invasor não se perturbou e resistiu ao apelo para ele não interromper a missa. Ante a resistência dele, certa senhora idosa dirigiu-se à proximidade do invasor e ofereceu algum dinheiro a ele, que logo aceitou e apressou-se em deixar o local.

 

Acabada a missa, dirigi-me ao senhor que tentou dissuadir o invasor de sua atitude, para cumprimentá-lo. Alguns dos raros presentes também o fizeram.

 

Há quase três décadas, algo parecido aconteceu em ocasiões mais solenes: casamentos religiosos. Em geral dois invasores constrangiam os convidados presentes a contribuir com algum dinheiro para eles. Para casamento da família, não tivemos dúvida em contratar dois guardas não fardados, para evitar o constrangimento dos convidados.

 

Pedintes, na entrada ou saída das missas e outras cerimônias religiosas, não costumam faltar. Mas a invasão do templo católico, de modo ruidoso e de repente, felizmente ainda é raríssimo.

 

As igrejas católicas mantêm abertas suas portas sem guardas ou porteiros. Se alguns pedintes mais afoitos não encontrarem a menor resistência, ficarão mais audaciosos em suas invasões, pela certeza da falta de qualquer reação. A lembrança dos antigos casos de invasões durante os casamentos religiosos não inclui a subida ao altar, como a de ontem na Igreja do Santíssimo Sacramento.

 

Não se ignora o dever de evitar as tentações, mesmo com a cuidadosa guarda dos valores capazes de provocar a cobiça alheia, principalmente das crianças e pessoas de escassa formação.

 

Para alguma reflexão sobre o risco de que o mesmo invasor repita sua invasão e outros se disponham a seguir seu exemplo, a experiência deve ser divulgada e tornar-se objeto de reflexão.

 

Ainda que o invasor não conte com a participação de maior número de fieis presentes, o maior número destes fieis deve, em conjunto, tentar dissuadi-lo da sua busca de qualquer vantagem.

 

 

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