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Artigo: Eu serei envenenado(a) agora?

Paulo Penteado Teixeira Junior assina artigo sobre Mês da Conscientização sobre a Doença Celíaca

Paulo Penteado Teixeira Junior

Imagine você se fazer essa pergunta, e com um motivo sério, várias vezes ao dia, por todos os dias da sua vida…

Imagine você viver com a constante – e real – preocupação de ser envenenado, a todo momento,

Isso não é enredo de filme de ação.

Essa é a rotina diária do celíaco.

O celíaco tem uma doença incurável e para a qual não há remédio, o seu corpo não digere uma proteína chamada glúten.

O glúten, na natureza, está presente em cereais como trigo, cevada e centeio.

E ele tem ampla utilização nas indústrias de alimentos, de cosméticos, de remédios e até de insumos hospitalares.

Quando o celíaco ingere o glúten, há uma imediata reação em seu intestino.

O organismo do celíaco “enxerga” aquela proteína – que o corpo não absorve –  como uma perigosa invasora, e desencadeia uma violenta reação.

Os sintomas imediatos são: diarreia, vômito, enxaqueca, confusão mental…

Esses sintomas, mesmo após mínimo contato com o glúten, podem persistir por dias, causando prostração e, por vezes, hospitalização. E isto ao mínimo contato…

A reiterada exposição ao glúten, e mesmo que em pequenas doses – além dos horríveis sintomas imediatos – leva à destruição do tecido intestinal, causando não só câncer de intestino, como também outras doenças sistêmicas, como cirrose hepática, osteoporose, infertilidade, déficit de atenção e depressão.

E apesar de todo esse quadro, por vezes a doença demora a ser diagnosticada.

Agora que você já conhece a realidade do celíaco, se imagine em um supermercado, lendo rótulo por rótulo, perdendo vários minutos por item, para – em letras diminutas – ler se há glúten no produto.

Mas…

O celíaco pode não ser alfabetizado – doenças não escolhem condição econômica, social, etária, de gênero… – e não conseguirá, sequer, ler a diminuta letra…

Em muitos países do mundo a lei obriga que todo produto contenha um símbolo visual para identificar se ele (não só alimentos, como também remédios e cosméticos) tem glúten.

Esta – infelizmente – não é a realidade do Brasil.

Os produtos não possuem essa identificação visual e a observação do “contém glúten”, quando presente, pode ser muito difícil de ser localizada no rótulo.

Não bastasse tudo isso, o celíaco ainda está sujeito à chamada “contaminação cruzada”, que é a presença de glúten em razão de processos como fabricação e limpeza.

Por exemplo: uma castanha (que não contem glúten) pode estar contaminada porque foi beneficiada em uma máquina que processou outro alimento com glúten.

E tudo isso importa no risco – real – de ser envenenado a cada refeição.

Sim, o glúten é um veneno para o celíaco.

Dieta sem glúten, para o celíaco, não é modismo. É necessidade.

O único “tratamento” para o celíaco é a total abstinência do glúten.

Maio é o mês da conscientização sobre a Doença Celíaca.

Os celíacos têm direitos: direito à vida, direito à saúde, direito à segurança alimentar, direito à tranquilidade psíquica de que não será envenenado a cada refeição.

Apoie essa causa.  Ela é justa, ela é humana, ela defende 1% da população brasileira.

Celíacos precisam de cuidados especiais.

 

#CELÍACOSTÊMDIREITOS

 

Paulo Penteado Teixeira Junior, Presidente da Associação Paulista do Ministério Público (APMP).